Homem na praia
Desenho à pena - caneta rotring sobre cartolina e guache
30x30 Anos 80
Que lonjuras, que desenhos levam as tuas guedelhas à
paisagem agreste? Nas lajes inscreveste os dias rascunhando no tempo de todas
as horas; no horizonte de incerta luz, arriscando o norte da paixão, adoras o
sol no apelo à lucidez, dormes na azinhaga dos louros imortais, fabricas os
óleos crepitantes! Pisas os tojos daquele real de pedra dura, rastejando
paulatinamente, crescendo na lenta agonia do álcool, mordido por uma dor de
estrelas e abraços das folhas secas; cresces em profusa lentidão dos dedos com
os olhos presos aos ventos, pisando as cinzas com adornos de cristais; que
lonjuras são estas crescendo nas cinzas com a lingerie dos ecrãs; das
paisagens digitalizadas e deslizantes, com holofotes vertendo lágrimas pelo
rabo; os cristais virtuais insonorizam os degraus que sobem ao tecto do
absinto, como os vícios depenados; eu ando, tu andas, nocauteando o alcatrão
que nos rodeia com os olhos assustados ao redor dos nossos encontros; o peso
disso sobra em lágrimas pelos cantos da casa, derramando sobre o pulso a dor,
tanto ao amanhecer como ao chegar; o rasto que alegra os olhos perdeu-se como
fogo-fátuo, esburacando o nosso tempo onde ratos nos visitam de mansinho como
chuva miudinha,
isto será hoje, ontem ou amanhã?
Verdes são os ânimos correndo licorosos por azuis invertebrados,
neste manso campo de florestais sentimentos; retinir de emoções e glórias sem
cristas, pousada voz entre as folhas adejantes como água nos subúrbios da sede,
– meia dança nos corredores da aflição;
corre pela mão da ventura este sangue opaco, doce e raivoso de anéis rumorosos;
derramou a era dourada vícios sobre os ombros ao transido homem? da caverna
abeirou-se a náusea como sangue voluntarioso, crescendo o espaço na dimensão
infinita dum querer macio e rugoso; chegados aqui, desavindos na prontidão dos
sentidos, coado o sol com nostalgia, o bezerro de ouro solfeja danças do
apocalipse e fumos das chaminés de aço.
Estou vivo, entre o amor e a morte acordaste em mim
a névoa dos acordes musicais, o longe como raio de saudade na distracção da
memória; na ópera das viagens pelas palavras abrem-se os caminhos que não
foram, como os que aqui chegaram com as ligaduras nas mãos; todas as árvores
que se soltaram dos olhos e pousaram nos calendários, alargando a vida como
esponja das emoções, ora de asas de condor ora violadas pelos segredos dos
corpos, ou os signos dos astros, habitantes de – para além de mim, como
íngremes sombras das galáxias eternas dos sóis e vulnerabilidades dos noivados
e dos pássaros, deixaram violentas recordações de ruídos;
o sol abre o espaço com os rústicos medos sobre as
lajes, o calor que se solta das mentes poderosas, intuem desígnios da
escuridão; os corpos beijam a saudade por dentro e o riso que estala na
madrugada une os verbos às emoções.